O diálogo possível entre a poesia combativa de Guebuza e de Azagaia
Resumo
No presente artigo, pretendemos avaliar o diálogo presente entre os textos poéticos
“As minhas dores” do poeta Armando Emílio Guebuza e “Combatentes da fortuna”
do rapper Azagaia (Edson da Luz), tendo em conta os contextos históricos,
literários e as relações intertextuais entre eles. Para tal, iremos recorrer à teoria de
Mikhail Bakhtin que analisa as relações dialógicas entre duas ou mais estruturas
textuais, reforçada pela noção de intertextualidade proposta por Julia Kristeva,
que analisa o cruzamento entre os textos. Começamos por apresentar os conceitos
de Dialogismo e Intertextualidade, a seguir apresentamos uma primeira aproximação
do leitor com a Poesia de Combate, que embora tenha surgido antes,
no período colonial só circulou massivamente, em Moçambique, nos primeiros
anos da pós-independência. Finalmente procede-se à análise dos textos apreciados
tendo em conta os pontos de convergência e divergência entre os mesmos.
Analisados os textos, foi possível constatar que ambos compartilham relações
dialógicas visto que manifestam a insatisfação em relação aos regimes instituídos,
cada um no seu tempo. Neste sentido poderíamos dizer que as duas estruturas
textuais concordam em relação a esse aspecto. Numa outra perspetiva, o discurso
de Guebuza pode ser encarado como uma promessa de um futuro próspero
que só se irá verificar pela união de forças. Entretanto, tal união acontece e, no
entanto, a promessa não se cumpre. Em seu discurso, Azagaia posiciona-se como
a voz ludibriada que reclama a promessa que ficou por se cumprir. Sendo assim,
os discursos são discordantes.
Referências
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